segunda-feira, 19 de agosto de 2013

OLA GENTE HOJE COLOCAREI COMO VOCÊ CUIDAR DOS ALEVINOS PARA QUE ELES FIQUEM GRANDES E SAUDAVEIS.

a seleção dos melhores alevinos de bettas splendens - uma discussão*
Resumo:
Alguns criadores de peixes ornamentais têm o hábito de selecionar os maiores alevinos que se destacam na desova acreditando que eles serão – no futuro - os melhores exemplares daquele lote. Muitas vezes os criadores descartam os demais e investem nestes peixes selecionados prioritariamente. Este artigo demonstra – através de experimentações e à luz de conceitos científicos - que este procedimento pode não estar correto, pois, muitas vezes, os menores filhotes podem se transformar nos melhores peixes se receberem tratamentos adequados. Neste artigo há também o depoimento de especialistas, cientistas e criadores, que colocam aqui a sua opinião sobre o polêmico assunto.
Alguns criadores, de Betta splendens, a exemplo de criadores de outros animais, adotam o procedimento de selecionar os maiores alevinos, ou seja, aqueles que se destacam no cardume, logo nos primeiros dias de vida, e investirem nesses peixes para posteriormente se tornarem os “top de plantel”, deixando o restante para segundo plano, ou até mesmo descartando-os.
Esses criadores acreditam que os alevinos que se desenvolvem primeiro serão os melhores daquela desova e conseqüentemente, apresentam, melhor material genético e, portanto, serão os animais preparados para serem as futuras matrizes. Não podemos descartar esta possibilidade, porém, a minha experiência em piscicultura ornamental mostra que excelentes peixes podem ser encontrados também no lote dos que tiveram um desenvolvimento mais lento. Para fundamentar meu ponto de vista teço os comentários abaixo:
Diferença no desenvolvimento - alevinos com 35 dias
- Figura 1 -

1. Meu Manejo de Alevinos
Meus peixes são criados em meu laboratório utilizando aquários ou caixas plásticas e, dependendo da quantidade de alevinos, com dez dias de nascidos divido a ninhada em outros recipientes. Quando estão com um mês de idade faço a primeira seleção, pois já é possível observar uma acentuada diferença de tamanho, sendo que vários alevinos se sobressaem, enquanto outros permanecem bem pequenos, dando-nos a impressão que não irão crescer. Assim, retiro os maiores alevinos e levo para os tanques de crescimento. Poucos dias depois os alevinos que ficaram passam a se desenvolver mais rapidamente e novas diferenças de tamanho começam a ficar visíveis. Aos quarenta e cinco dias faço a segunda seleção e retiro, novamente, os maiores alevinos levando-os, também, para o tanque de crescimento, ficando no aquário inicial, mais uma vez, os menores filhotes que passam a se desenvolver mais rapidamente do que os lotes anteriores, em função, principalmente, da maior quantidade de água disponível, maiores níveis de oxigênio dissolvido, melhor oferta de alimentos, menor estresse por espaço físico, etc, etc. Com sessenta dias de nascidos, então é feita uma nova avaliação e o processo é repetido a cada quinze dias até que todos os alevinos sejam levados para os tanques de crescimento.
Alevinos com 25 dias - diferenças no desenvolvimento
- Figura 2 -
Quando os filhotes machos, já acondicionados nos tanques, começam a brigar estes são retirados e acondicionados em recipientes individuais. É possível observar que de todos os lotes saem peixes bons e peixes ruins. Todos os lotes possuem peixes grandes e pequenos, peixes com grande dorsal e pequena dorsal, peixes com muita cor e peixes com pouca cor. Já vivenciei alguns casos que aqueles últimos peixinhos, bem pequeninos, que não damos a devida importância, e são deixados de lado, começam a desenvolver, tardiamente, características de peixes “top de linha” e que até poderão ser selecionados para matrizes.
Alevinos com 28 dias - diferenças no desenvolvimento
- Figura 3 -
Alguns criadores sugerem que os peixes sejam selecionados, logo no início, pelas características morfológicas que desejam, por exemplo: abertura caudal, abertura peduncular, coloração, etc. Cabe ressaltar, entretanto, que, dependendo da espécie e ou da linhagem, muitas destas características só irão se manifestar quando os animais já se encontrarem com alguns meses de idade; por exemplo, na minha linhagem super red, quase todas as fêmeas só colocam as suas cores definitivas após quatro ou cinco meses de idade. Até esta idade elas são cambojadas.
A título de informação, vale citar que o fator luz exerce significativa influência neste quesito, sendo que peixes criados sobre exposição de luz têm tendência a mostrarem suas cores mais rapidamente do que aqueles que não são criados com aquela exposição.
Vale considerar, também que a completa abertura caudal, em algumas linhagens, só poderá ser totalmente observada quando o peixe já possuir vários meses de idade. Na linhagem de white opaque que desenvolvo, por exemplo, a maioria dos peixes só mostra sua total abertura caudal após os cinco meses de idade, principalmente as fêmeas.

2. Porque alguns alevinos crescem mais do que os outros, sendo que em alguns casos os maiores chegam a comer os menores?
Temos que considerar que uma postura de uma fêmea do peixe betta produz, em média, de cem a quinhentos ovos, sendo que já foram observados casos excepcionais que este numero ultrapassou a casa dos mil ovos.
A partir do momento que o ovócito é expelido pela fêmea e fecundado pelo macho inicia-se, imediatamente, o processo de desenvolvimento daquele organismo. A corrida pela vida começa mesmo antes do ovócito chegar ao fundo do aquário, pois ele já está fecundado. Uma postura de uma fêmea pode levar horas para ser concluída e, assim, os ovos que foram fecundados primeiro conseqüentemente serão os primeiros a eclodirem e gerarem alevinos.
Os alevinos dos primeiros lotes comerão primeiro e consequentemente crescerão primeiro. Desta forma podemos, hipoteticamente, considerar que estas diferenças entre os nascimentos podem significar a diferença entre sobreviver ou servir de alimento; ser um exemplar bom ou ser um exemplar ruim.
Outro aspecto biológico a considerar é o fato dos ovos do peixe betta, quando examinados à luz da lupa eletroscópica, não apresentarem exatamente o mesmo tamanho.
Ovócitos de bettas. Não são exatamente do mesmo tamanho.
- Figura 4 -
Esta diferença pode nos indicar que suas reservas vitelínicas não possuem o mesmo volume e que os peixinhos ao nascerem não terão exatamente o mesmo tamanho (Vide Figura 3). A diferença de tamanho é muito significativa na corrida pela vida. Peixes maiores tem bocas maiores e se tornam aptos primeiro a se alimentarem de um náuplio de artemia ou um microverme e assim, hipoteticamente, poderíamos considerar, que ter a boca um pouquinho maior pode significar a diferença entre viver ou servir de alimento; em ser um exemplar bem sucedido ou em ser um exemplar medíocre.
Ovócitos - visualização da diferença no volume da reserva vitelínica
- Figura 5 -
Como vimos nos dois últimos parágrafos os alevinos que nasceram primeiro ou com maior reserva vitelínica podem apresentar melhor chance de sobrevivência, mas seriam estes os exemplares com o melhor material genético para evidenciar os fenótipos que apreciamos?
Convém lembrar que a maioria das características que apreciamos nos peixes ornamentais não necessariamente serão as mais favoráveis na natureza.

3 . Então como devemos selecionar os exemplares para serem as nossas matrizes?
Seleções rigorosas baseadas em uma única característica biológica como precocidade de desenvolvimento ou tamanho podem até resultar em peixes excepcionais, no entanto, não garantem outras características fenotípicas que queremos. Obter animais com melhor pedúnculo, dorsal, maior número de raios na cauda, etc, exigem que sejam escolhidos animais possuidores de genótipos favoráveis que tanto podem estar transcritos no DNA desses primeiros e maiores alevinos quanto na cadeia genética daqueles menores, que não se desenvolveram primeiro por questões bióticas ou abióticas desfavoráveis, ou seja, por interação inadequada com os irmãos maiores ou com o ambiente.

4. A título de curiosidade vale comentar porque uma fêmea do peixe betta produz tantos ovos.
Durante o desenvolvimento evolucionário dos organismos animais, algumas espécies sofreram, no decorrer do tempo geológico, adaptações evolutivas que as levaram a gerar muitos ovos ou muitos filhotes, enquanto outras evoluíram para gera poucos ovos ou poucos filhotes.
Segundo o postulado darwiniano, aquelas espécies que geravam poucos ovos ou filhotes desenvolveram paralelamente rituais de cuidados parentais mais aperfeiçoados com o objetivo de preservar um maior percentual de sua prole. Em contrapartida, aqueles animais que tendiam a gerar muitos descendentes não desenvolveram cuidados parentais tão aperfeiçoados preservando apenas um pequeno número de sua prole e, desta forma, por seleção natural, somente os mais fortes sobreviveriam.
Neste segundo caso, a maioria dos filhotes gerados serviria de alimento aos demais peixes do cardume, sendo até mesmo uma importante fonte de proteína ou fator de preservação daquela população ou da espécie. Acredito particularmente que o peixe betta esteja enquadrado nesta segunda hipótese.

5. Então de onde veio este procedimento de selecionar os primeiros animais que se destacam no lote.
O procedimento de separar os maiores animais de um lote de filhotes, para posteriormente servirem de matrizes, costuma ser utilizado quando o interesse principal é produzir animais cuja característica requisitada é o peso, tamanho, etc, no entanto, atualmente as empresas que trabalham com produção de animais, em escala comercial, utilizam processos de avaliação genética (baseados em marcadores moleculares) para selecionar as suas matrizes, ficando, desta forma, aquele processo de seleção “no olho” ultrapassado mas ainda utilizado por muitos produtores que não tem conhecimentos e acesso à tecnologia moderna.

6. Então qual seria a melhor forma de selecionarmos e avaliarmos nossos alevinos?
Sabemos que os principais fatores para obtenção de peixes de boa qualidade estão diretamente relacionados à água e a alimentação.
A água deve ser de excelente qualidade, isto é com ausência total do terrível trio de compostos nitrogenados: nitrito, nitrato e amônia; temperatura e parâmetros físico-químicos compatíveis com a espécie de peixes em criação.
Acredito que a qualidade da água seja ainda mais importante do que alimentação porque peixes com um mínimo de alimentação, porém com água de boa qualidade podem crescer, no entanto, quando a água está ruim, mesmo com boa alimentação os peixes atrofiam.
Sugiro a separação máxima dos alevinos, ou seja, já a partir do décimo dia de nascidos pode-se dividi-los em vários grupos; a regra é: quanto maior a litragem por indivíduo melhor será o desenvolvimento.
Quando os alevinos estiverem separados em pequenos lotes teremos um crescimento mais ou menos uniforme e poderemos remanejar um indivíduo que se destacou no seu lote, para um lote de maiores e vice versa.
Desta forma, tanto no aquário, ou em tanques poderemos avaliar progressivamente todos os peixes, selecionando os indivíduos que possuem as características fenotípicas que desejamos, sem descartar aqueles que inicialmente demoraram mais para se desenvolverem.
A TÍTULO DE EXPERIMENTAÇÃO SUGIRO QUE OS COLEGAS RETIREM OS MENORES ALEVINOS DE SUAS DESOVAS E ACONCIDIONE-OS EM RECIPIENTES, DENTRO DOS PRÓPRIOS AQUÁRIOS DE CRESCIMENTO, CONFORME FIGURA ABAIXO. TENHO CERTEZA QUE VOCES TERÃO UMA SURPRESA COM O DESENVOLVIMENTO DESSES ALEVINOS.
Seleção dos 5 menores alevinos, a cada dez dias, para comparativo do desenvolvimento com o resto da ninhada.
- Figura 6 -
Considerações:
Coloquei neste artigo as observações que venho fazendo na criação do peixe betta e que tem me propiciado, como resultado, exemplares excepcionais, com tamanho acima do padrão de mercado, no entanto, nada impede que outros criadores tenham outros pontos de vista, estejam fazendo de outra forma e estejam obtendo sucesso, por isso coloco este assunto em discussão e gostaria de ouvir a opinião de outros criadores, pois só assim poderemos evoluir na criação deste fantástico peixe.

Wilson Vianna
wovianna@oi.com.br
Graduado em Ciências Biológicas pela UNISUAM/RJ, graduado em Administração de Empresas pela UNISUAM/RJ, Pós - Grad. em Biologia Marinha pela UNISUAM /RJ, Possui trabalhos científicos publicados através do CNPQ - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, titular da Piscicultura Vianna (Magé/RJ), relações públicas e articulista da revista Mania de Bicho (RJ). Gestor do Centro de Estudos de Aquariofilia - CEA, membro da equipe de pesquisa Científica "Aquisuam” .
* Artigo publicado originalmente na revista Mania de Bicho

- COMENTÁRIOS -
A seleção dos filhotes que crescem mais rápido em uma ninhada de peixes tem por base, a meu ver, em uma interpretação errada do conceito darwiniano de “seleção dos mais aptos” que é interpretada como “seleção dos mais fortes” que é o uso comum aplicado pelas pessoas com pouco conhecimento de genética.
Como estou no mesmo caso, durante muito tempo apliquei este tipo de seleção, porém, com a experiência, um pouco de leitura – de autores habilitados – e um tanto de “meditação”, tenho visto que as coisas não são assim tão simples.
Embora não seja completamente errado que os indivíduos que crescem mais rápido possuem algumas vantagens em relação aos irmãos de uma mesma ninhada, também é certo que determinadas características necessárias à perpetuação da espécie só serão postas a prova em estágios posteriores, como delimitação de território, cuidados parentais, taxa de fecundação, etc, em que nem sempre aqueles indivíduos mais possantes e vistosos serão os mais bem sucedidos.
Quem em sua criação, nunca deparou com um imponente macho de disco, por exemplo, que a primeira vista seria escolhido como reprodutor, mas que por uma “falha genética” é agressivo demais com qualquer fêmea, inibindo a desova, ou que não mostra interesse em fecundar uma desova? Bem, num campeonato em uma exposição ele pode se destacar, mas como reprodutor ele será descartado.
Por exemplo, em minha ultima ninhada de Fundulopanchax gardineri nigerianum, os dois machos maiores, com belíssimo colorido foram preteridos por mim em função de um terceiro motivo: após o 4º mês, apresentaram desvio na coluna, próximo ao pedúnculo caudal e logo após apareceram outros desvios na coluna, enquanto que um terceiro apresentou aspecto totalmente dentro dos padrões de formato de corpo, nadadeiras e coloração.
Quando criamos animal em cativeiro, especialmente quando a finalidade é ornamental, mesmo não estando totalmente livres dos fatores que determinam a seleção natural, certas leis da seleção artificial não são levadas em conta, por nós por desconhecimento, o que às vezes prejudica e atrasa muito o objetivo que queremos alcançar. Um estudo mais cuidadoso da herdabilidade que é a porcentagem de um determinado gene ou conjunto de gene (porque alguns deles são transmitidos em blocos, o que às vezes complica um pouco as coisas) de serem transmitidos aos seus descendentes, ajudaria muito para esclarecer certas questões que por vezes desafiam os criadores.
Isto demanda algum tempo com leitura de trabalhos de genética (de autores habilitados), paciência na observação das ninhadas sem uma preocupação exagerada em selecionar rapidamente os filhotes que se destacam primeiro, como você já vem fazendo, e o acompanhamento da eficiência na transmissão dos caracteres mais desejados através da comparação entre vários indivíduos no ato reprodutivo, para se estabelecer uma metodologia adequada para a fixação de uma linhagem dentro dos padrões desejados.

Reinado Santana
Médico veterinário, consultor técnico da Cia dos Aquários, responsável pelo setor de Aquariofilia da loja “NO AR” consultor do Centro de Estudos de Aquariofilia.

Concordo com você que o processo de seleção de matrizes pode ser mais elaborado do que apenas a escolha dos animais por tamanho ou precocidade. Estes valores são oriundos da pecuária de corte. Uma seleção drástica como esta usando apenas uma característica fenotípica é muito restritiva e, a meu ver, perigosa para o plantel.
Para mim a seleção deve ser feita em concordância com as características desejadas pelo criador. Se apenas peixes grandes o satisfizer, ótimo! Agora a piscicultura ornamental pede, como em outras criações de animais domésticos, a seleção de múltiplas variáveis desejáveis no plantel.
Acredito que uma seleção baseada em pelo menos três fatores fenotípicos e dois fatores qualitativos da criação seja mais eficaz. Por exemplo, creio que uma escolha básica pode ser feita usando o tripé: tamanho, cor e morfologia, onde o criador deve colocar um valor prioritário individual em cada item de acordo com seu objetivo com o plantel. Acrescentaria mais dois fatores qualitativos de manejo: taxa de fecundidade e fertilidade.
Outros fatores esquecidos, como você mesmo citou, são os de interação biótica e abiótica do plantel. Este tema é tão essencial que merecia um artigo exclusivo.
Para finalizar senti a falta de uma sugestão no seu texto de parâmetros de seleção específica para o Betta, de acordo com a sua experiência. São tantos fatores a serem analisados que o criador pode se perder na seleção e ao invés de errar por selecionar com rigor excessivo, deixa de ter seleção. Ficaria muito bom se você colocasse em pauta também a seleção para objetivos comerciais e outra para objetivos de melhoria da espécie.

Luiz Guilherme Ferreira Filho
Médico / Fio Cruz, criador de Bettas, mantenedor do Centro de Estudos de Aquariofilia.

O conjunto “tamanho, forma e fenótipo desejado (cores e/ou distribuição das mesmas)” continuará sempre valendo.
Geralmente utilizamos linhas de sangue distintas de uma mesma linhagem onde, em cada uma delas (ou mesmo, em mais de uma) se dá ênfase a cada um desses parâmetros separadamente, salvaguardando-se, sempre, aqueles que tenham os demais fatores girando em torno daquilo que se deseja alcançar.
Porém, mesmo naquelas linhas de sangue em que se está enfatizando o tamanho, aqueles alevinos que se desenvolvem mais rapidamente, não necessariamente serão aqueles que se estabilizarão nos maiores portes e/ou terão a capacidade genética de transmitir esse fator aos descendentes.
Quanto à essa última observação, será sempre impossível ao criador mediano ter a garantia de se estar lançando mão de exemplares (seja ele um macho ou uma fêmea) nas outras linhas de sangue (as com ênfases na forma e/ou cor) que irá reforçar um aumento no tamanho dos bettas de seu plantel, futuramente.
Claro está para mim que, caso se tenha dois peixes que se encontrem em mesmas condições de qualidade – tamanho, forma e cor -, porém, um deles com um desenvolvimento mais rápido que o outro, é mais lógico que se utilize aquele com um desenvolvimento mais precoce, pois esse fato pode, realmente, apontar para um diferencial genético entre ambos, nesse quesito.
Uma outra coisa é que determinadas linhagens (White platinum, White opaque, vermelhos e amarelos) só permitem que se consiga escolher os melhores exemplares (no quesito cor) a partir dos 8 meses.
Isso porque esses padrões de cor enganam, e aquelas “sujeiras” que surgem no fenótipo, demoram a aparecer nos bettas novos – mesmo nos de grande porte –, e só se mostram em bettas mais velhos. Mesmo assim, em muitas das fêmeas (me refiro aos brancos ou amarelos), por serem menores – na grande maioria das vezes -, passam toda uma vida sem apresentar essas infiltrações de cores estranhas ao padrão.
Dessa forma, é prudente se aproveitar, ao máximo, todos os exemplares de uma ninhada, de tal forma a se ter – até, para fins estatísticos – uma maior amostragem de como essa “sujeira” está se comportando dentro de seu plantel.
Realmente, as questões de estresse com irmãos maiores e/ou de ambiente com alta concentração de indivíduos por unidade de área (e não de volume) – supondo-se, é claro, boas as demais condições de contorno (iluminação, temperatura, alimentação e parâmetros físico-químico da água) – afetam extremamente o desenvolvimento de toda a ninhada, e, em especial, os “retardatários”.
Esse ponto é, sem sombra de dúvidas para mim, o fator primordial que deverá ser equacionado por quem deseje ter bettas com saúde – independente de se ter (ou não) qualidade genética. Diria mais: isso vale para qualquer meio aquático onde se tenham peixes. A relação indivíduo x espaço vital mínimo e exclusivo em seu entorno é de suma importância, principalmente, ao betta que é tremendamente territorialista!

Vitor Calil Chevitarese
Estudioso e conceituado criador do peixe Betta, consultor e mantenedor do Centro de Estudos de Aquariofilia - CEA.

Como o Wilson disse bem no seu artigo, se pudéssemos manter até uma idade elevada toda uma ninhada apareceriam peixes de todos os tipos: grandes, pequenos, com dorsal boa, ruim, HMs, superdeltas, sólidos em cor, lavados, apáticos, valentes, covardes e por aí vai. Ao selecionarmos os bettas apenas pelo tamanho, caímos no erro de acreditarmos que o tamanho é a única razão de criarmos bettas ou que todos os bettas que crescem mais rápido serão os que apresentarão as melhores formas e cores.
Por experiência notei que quando selecionamos os maiores peixes de uma ninhada e os separamos, eles tendem a se tornar sexualmente maduros mais cedo que os irmãos que ficam em cardume. Também ocorre um crescimento das nadadeiras e das características que o tornam apto a se reproduzir. A ação dos hormônios sexuais, alavancados pela falsa delimitação de território, reduz a velocidade do crescimento em detrimento da velocidade de aptidão para a reprodução.
Os filhotes machos que demoram mais a sair do cardume tendem a crescer o corpo e muitas vezes ficamos pasmos quando aquela fêmea “linda” na verdade transforma-se em um macho enorme, que apenas demorou a desenvolver suas características sexuais.
Esta demora em mostrar essas características tem várias causas. Uma delas é o estresse causado pelos filhotes maiores (que em sua maioria são machos) sobre os menores. Como foi dito acima, ao retirarmos os maiores peixes, outros ocupam os seus lugares. Caso fizéssemos isso até o fim da ninhada, depois de um tempo sempre haveria peixes maiores, dominando os menores. Creio que alguns peixes demoram a apresentar suas características sexuais como defesa do ataque dos machos dominantes. Ao manter a aparência neutra por mais tempo, tendem a sofrer menos ataques desses machos na defesa do território. Conforme se diminuem os peixes, o estresse de estar sempre encontrando os machos dominantes diminui e o peixe se alimenta melhor e cresce mais. Assim sendo, a lógica de poucos peixes – peixes maiores é correta.
Infelizmente existem hoje muitos criadores de bettas que põem seus peixes para reproduzir muito cedo, aos três, quatro meses, buscando repostas rápidas e comerciais. Nos casos dos plakats o problema não é tão sério, mas nos casos dos HMs long fin é seríssimo. A grande maioria dos HMs do mercado aos seis, sete meses já não estão aptos para reprodução devido ao enorme peso das nadadeiras. Ficam deitados no fundo da beteira sem forças para nadar. Os HMs originais, foram desenvolvidos por uma equipe de criadores que só selecionavam peixes a partir dos seis meses, buscando peixes que pudessem se manter saudáveis e reprodutivos até uma idade elevada. Com a expansão dos HMs pelo mundo, o comércio falou mais alto.
Atualmente vemos um crescimento muito grande do interesse dos plakats em relação aos HMs Long Fin. Parte disso é a característica dos PKs se manterem ativos sexualmente por mais tempo e mostrarem-se ativos todo o tempo. As nadadeiras menores tornam isto mais fácil, sendo assim porque não escolher os bettas long fin por suas qualidades natatórias e de saúde em vez de escolhermos os que crescem as nadadeiras mais rápido.
Finalmente creio que são procedimentos saudáveis na criação do Betta splendens:
  • Separar os filhotes por tamanho semanalmente;
  • Evitar superpopulação dos filhotes;
  • Fazer o máximo possível de TPAs, de preferência 100 % todo dia
  • Não colocar alimento em um só local, mas espalhá-lo por todo o aquário para evitar que os maiores atrapalhem os menores a comer;
  • Selecionar os reprodutores, principalmente os machos, após os seis meses de vida e em algumas linhagens após isto. Se nessa idade o macho não consegue mais se reproduzir e nadar com desenvoltura, deve ser descartado para reprodução e mantido apenas para exposições;
  • E por último, ler este artigo do Wilson que é porreta!!!!!!

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